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Ricardo III e Macbeth: o Fascismo Shakespeariano

William Shakespeare (1564-1616) é considerado como o maior dramaturgo de todos os tempos, suas obras atravessaram gerações e ...
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William Shakespeare (1564-1616) é considerado como o maior dramaturgo de todos os tempos, suas obras atravessaram gerações e nunca perderam sua genialidade, em um momento delicado como o que vivemos, percebi semelhanças entre suas obras e o fascismo atual, em específico com duas adaptações de sua obra, o filme de 1995 adaptado da peça Ricardo III, e o telefilme de 2010 adaptado da peça Macbeth.

RICARDO III
"Já que não posso ser um amante que goze desses dias de práticas suaves, eu estou determinado a me tornar um vilão" - Ricardo III, ato 1, cena 1

Ricardo III foi escrita pelo o bardo em 1595, sendo uma conclusão de suas peças que tem como cenário a Guerra das Rosas (1455-1487), conflito onde duas casas reais inglesas, York e Lancaster, lutaram pelo o trono inglês, Ricardo de York, foi o último rei desse período, sendo morto em combate na Batalha de Bosworth Field, em 1487. Na peça, Shakespeare o retrata como vilão, uma pessoa cruel e vingativa, rejeitada por sua aparência.
Na adaptação cinematográfica de 1995, dirigida por Richard Loncraine, e estrelada por Ian McKellen no personagem-título, o cenário medieval é trocado pela a Inglaterra dos anos 30, o que faz com que o nosso paralelo faça mais sentido. O movimento Fascista surgiu na Itália durante a 1° Guerra Mundial (1914-1918), ganhando cada vez mais força na década de 20, resultando na ascensão de um dos maiores ditadores da história Benito Mussolini (1883-1945), esse movimento ideológico foi se espalhou pela Europa, ganhando força na Inglaterra durante os anos 30, com a fundação de um novo partido chamado "União Britânica dos Fascistas", liderado por um homem chamado Oswald Mosley (1896-1980), o fascismo teve seu auge na Inglaterra durante os anos 30, como já dito antes o cenário do filme, concebido como uma sátira e uma crítica à essa ideologia, podemos fazer um novo paralelo entre Ricardo e um dos maiores líderes fascistas da história, Adolf Hitler (1889-1945). Como já dito antes, Ricardo é retratado na peça como uma pessoa cruel por ter sido rejeitada e menosprezada, ao estudar a história de Hitler, percebemos que ele também sofreu rejeição, durante sua juventude, ele queria ser artista, e se mudou para Viena para realizar seu sonho e entrar em uma escola de artes, sendo rejeitado por todas as escolas, ele dormia na ruas, sem dinheiro e comida, ele começou a escutar discursos de pessoas que culpavam os judeus e os imigrantes pela a pobreza e a miséria dos cidadãos austríacos e alemães, se vendo em uma situação de miséria, ele começou a acreditar nisso também. Pessoas não nascem cruéis, elas se tornam cruéis. Na vida real, líderes fascistas ganharam poder graças ao apoio popular, mais um paralelo com a peça, por mais que o governo em questão seja uma monarquia, Ricardo após em segredo ter matado seus irmãos e sobrinhos, ele seria o próximo na linhagem, mas sua coroa só foi garantida graças ao apoio dos nobres, que o deixam de apoia-lo no ato final, quando ele morre em combate.

Macbeth

Escrita entre 1603 e 1607, A tragédia de Shakespeare narra a ascensão e a queda do rei escocês Macbeth, transformando o personagem-título de um cavaleiro honrado a um tirano, na adaptação televisiva de 2010, dirigida por Rupert Goold e estrelada por Patrick Stewart e Kate Fleetwood, assim como a adaptação de Ricardo III, troca o cenário medieval por um mais moderno, desta vez a Escócia dos anos 40. Historicamente os anos 40 são marcados pela a 2° Guerra Mundial (1939-1945), conflito que marcou a queda a fascismo, e o paralelo com a adaptação com o movimento ideológico, está no sentimento que temos ao acabar a obra. Na peça, Macbeth é um cavaleiro a serviço do rei Duncan em uma guerra civil pelo o poder da Escócia, ao término da guerra, Macbeth é abordado por 3 bruxos que profetizam que ele será rei, incentivado por sua esposa, ele mata Duncan, se torna rei, mas é rapidamente corrompido pelo o poder, e se torna um tirano, matando a todos que se opõem a ele, no ato final, uma rebelião é formada para derrubar Macbeth, ele acaba morrendo, e no final sua cabeça é exibida com a "Eis a cabeça do tirano". Nós o público sentimos a morte do protagonista, na cena de sua morte, mesmo com to das as atrocidades que ele cometeu, nós, o público achamos que ele era um homem melhor do que todos que ele matou, nós estamos vendo isso com os nossos olhos, homens cruéis, ditadores são louvados como deuses depois de sua morte ou até antes disso, mesmo com a morte de Hitler e Mussolini, existem aqueles que acreditam que eles eram as melhores pessoas do mundo, mesmo com todas as atrocidades cometidas, e isso se aplica ao Brasil, quantas pessoas existem que defendem e exaltam a ditadura militar? Vemos protestos a favor dessa ideologia todos os dias.

Podemos concluir que Shakespeare era um vidente? Não, tudo isso já aconteceu, e continuará acontecendo, somente nós, o povo podemos evitar que isso repita, mas também temos o poder de repetir os mesmos erros, como estamos testemunhando.

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