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RESENHA: Love, Victor e a tentativa de representatividade

Quando estreia uma série sobre jovens se descobrindo , é quase certo que um grande movimento nas redes sociais vai começar para divulgá-...
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Love, Victor: estreia no Brasil e 2ª temporada; Confira! - Mix de ...

Quando estreia uma série sobre jovens se descobrindo , é quase certo que um grande movimento nas redes sociais vai começar para divulgá-la, levando inúmeras pessoas a conhecê-la. Foi o que aconteceu com Love, Victor, lançamento da Hulu que estreou em junho, no Mês do Orgulho, o momento ideal para trazer à tona a temática debatida na série.

Caso você ainda não saiba nada sobre a série, Love, Victor fala sobre um garoto que está passando por um processo completo de novidades: nova casa, nova escola, novos amigos e uma nova noção sobre a sua própria sexualidade. Love, Victor tem apenas 10 episódios na primeira temporada disponibilizada pela Hulu, mas consegue desenvolver diversas temáticas com personagens complexos que apresentam dramas reais.

Muitos espectadores da série chegaram até ela devido a Love, Simon, o filme de 2015 que é baseado no livro Simon and the Homo Sapiens Agenda (ou Simon vs a Agenda Homo Sapiens no Brasil), escrito por Becky Albertali. Love, Victor se passa no mesmo universo que o filme e tem até mesmo participações especiais! Simon e Bram, o casal principal de Com Amor, Simon, aparecem na série para dar apoio a Victor em um momento difícil, ajudando-o a entender melhor sobre si mesmo.

Love, Victor se mostra uma série de televisão bem importante por tratar de assuntos reais, mas muitas vezes silenciadas em produções com público-alvo mais jovem, e boa parte dos atores na série conseguem transmitir os dramas vividos por seus personagens. Apesar do romance que permeia a série o tempo inteiro, pessoalmente considero o núcleo familiar como a melhor parte série.

Isabel (Ana Ortiz) e Armando (James Martinez), os pais de Victor, passam por um relacionamento conturbado e entregam atuações incríveis. Eles conseguem transpassar exatamente o sentimento necessário em cada cena, oscilando tão rapidamente entre um amor imensurável que sentem um pelo outros, mas também um desconforto causado pelo que não ficou resolvido há muitos anos. Acho que um dos principais motivos que me fez gostar muito desse plot em Love, Victor foi o fato de o casal lidar com as coisas de forma madura e sensata, entendendo o sentimento que possuem um pelo outro e reconhecendo as dificuldades do relacionamento. O desfecho para eles no último episódio de Love, Victor foi ótimo para mim.

A outra parte da família é composta pelos irmãos de Victor, Pilar (Isabella Ferreira) e Adrian (Mateo Fernandez), mas é essencial focar na primeira, porque para mim ela foi o melhor ponto da série - e tinha potencial para ser desenvolvida muito mais. Pilar viaja com sua família para uma nova cidade, deixando para trás pessoas importantes, assim como todos os outros. No entanto, ela se afasta também de seu namorado, que acaba terminando por não conseguir manter o relacionamento à distância. Pilar não consegue fazer novos amigos na escola e se vê cada vez mais sozinha, principalmente quando o relacionamento entre seus pais começa a ruir.

Pilar acaba passando muito despercebida em Love, Victor, mas tem uma cena específica em que ela fala da dor de ter deixado tanta coisa para trás que me fez realmente reparar nela e começar a imaginar como deve ser realmente difícil. Victor, apesar das próprias dificuldades, consegue fazer amigos rapidamente, tendo Felix e Mia ao seu lado, além do time de basquete e até mesmo Simon, mesmo que à distância. Enquanto isso, como fica a rede de apoio de Pilar?

A série toda fala muito sobre se sentir deslocado e cada personagem tem problemas específicos, por isso você pode se identificar em diversos momentos com cada um deles.

Um dos fatos que mais me incomodou em Love, Victor não tem muito a ver com a série em si, mas quanto ao elenco escalado. Antes da série estrear na Hulu, foi comentado nas redes sociais sobre o protagonista, Michael Cimino, ser hétero, algo que de imediato fez com que eu perdesse por um tempo a conexão com a história. Durante os dez episódios, a história de Victor acabou não me tocando tanto quanto eu esperava, fazendo com que a minha experiência não fosse tão boa.

Tudo pareceu muito desnecessário e raso quando se tratava de Victor e Benji. Apesar de uma temática extremamente importante, por que não dar o papel de um jovem gay a um ator que, de fato, seja gay? Esse tipo de representatividade é extremamente importante e para mim o melhor exemplo disso é a série Pose e o seu elenco impecável, com atores da comunidade LGBTQ+ que sabem o que seus personagens estão passando. A experiência se torna infinitamente melhor e foi exatamente isso que eu senti falta ao acabar Love, Victor.

O pior é que esse mesmo tipo de frustração aconteceu quando eu vi Love, Simon, já que o protagonista, Nick Robinson, também é hétero, então foi como passar pela mesma falta de conexão pela segunda vez.

Apesar dos pesares, eu gostei da série e recomendo! Mesmo não tendo gostado tanto do plot principal de Love, Victor, todos os outros personagens são ótimos e muito bem desenvolvidos, como a família de Victor e seus amigos. É uma série importante que discute temas sérios de forma relativamente real e permite que nos identifiquemos em diversas partes, mas segue longe de ser perfeita.

Atualmente, assistir a primeira temporada de Love, Victor só é possível por meio da Hulu. O elenco da série é muito bem selecionado, com nomes como Michael Cimino, George Sear e Anthony Turpel no elenco principal, além de Nick Robinson e Keiynan Lonsdale, de Love, Simon, fazendo uma participação mais que especial.

Ainda não se sabe muito sobre a segunda temporada de Love, Victor, mas os produtores já deram indícios de que começaram as preparações para uma futura renovação que está nas mãos da Hulu.

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