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O contexto social das mulheres na live action "Mulher-Maravilha"

Super-heróis são sempre um assunto que interessa a todos. Seres vindos de outros planetas, pessoas com habilidades especiais, acidentes...
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Super-heróis são sempre um assunto que interessa a todos. Seres vindos de outros planetas, pessoas com habilidades especiais, acidentes e mutações genéticas que resultaram em super-poderes, humanos se transformando em justiceiros e até deuses como super-heróis. No mundo da ficção, tudo é possível e o limite é nossa imaginação. Contudo, o mundo das HQs apresenta problemas bem reais e propõe reflexões em momentos que nem imaginamos.

O filme live action da Mulher – Maravilha, lançado em 2017, apresenta as origens de Diana Prince, uma das super-heroinas mais famosas do mundo dos quadrinhos. A partir da observação de sua jornada, nos deparamos com diversas questões que servem como análises e considerações sobre o papel e a voz das mulheres na sociedade, choque cultural e o processo de aculturação sofrido pela heroina.

Diana nasceu e cresceu na ilha de Temiscira, local onde as amazonas vivem isoladas do mundo e a presença dos homens é proibida. As amazonas são guerreiras criadas por Zeus para influenciar o coração dos humanos com o amor e restabelecer a paz no mundo, numa tentativa de restaurar os danos que Ares, o deus da guerra, causou. Com inveja dos humanos, criação de seu pai, ele os envenenou com desconfiança, ódio e inveja, para que lutassem entre si e se destruíssem.

A Mulher – Maravilha simboliza perfeitamente as amazonas: é corajosa, cheia de empatia e compaixão, determinada a lutar por igualdade, defender os mais fracos e alcançar a paz. Ela acredita que os humanos são bons em sua natureza e que todo o ódio, o rancor, a guerra e a destruição que causam podem ser interrompido se Ares for derrotado.

Toda sua história e tudo que acontece em seu mundo é ligado aos deuses, eles são a razão de sua existência e tudo que acontece se deve a eles. Dentre as amazonas, Diana se destaca, sendo a mais forte e com habilidades que a mesma desconhece. No início do filme, ela é a única criança da ilha. Sua mãe, Hipólita, conta que a esculpiu do barro e lhe soprou vida, tamanho era o seu desejo de ter uma filha. Essa história foi a primeira origem da Mulher – Maravilha apresentada das HQs. Em um dos reboots (reinício de sua história desde o princípio) a história de seu nascimento mudou: ela na verdade é filha de Hipólita e de Zeus. A história do barro foi contada a ela para ocultar a verdade sobre ela e ambas são apresentadas no filme. Sendo uma semideusa, seu destino de lutar contra Ares e derrotá-lo fica ainda mais claro.

Toda a sua realidade se transforma quando Steve Trevor cai na ilha e traz todo o mundo “moderno” até ela. Ele conta às amazonas sobre a Primeira Guerra Mundial, todo seu horror, destruição e sobre sua missão para acabar com ela. Diana fica convencida de que essa guerra está sendo causada por Ares e parte junto a Trevor para a Inglaterra. A partir do contato com Steve e sua ida para Londres as divergências culturais começam a aparecer.

Devemos considerar que Diana vem de uma sociedade tradicional e estável, onde as mudanças são lentas e suas estruturas e tradições são sólidas, o que cria um enorme contraste com as sociedades modernas, que são caracterizadas por mudanças rápidas e permanentes. Por estar dentro de um modelo social e de convivência completamente diferente, as dúvidas, o estranhamento e a perplexidade diante das situações caracterizam a chegada da heroína a este novo local.

É interessante observar o choque e o estranhamento de Diana diante de um ato tão simples e rotineiro como um homem e uma mulher andarem de mãos na rua. Ela não entende o motivo e mesmo quando Trevor explica que eles “estão juntos” a noção de estar juntos para ela é algo literal e não o fato de estar em um relacionamento.

Uma das minhas partes preferidas do filme é o momento na loja de roupas, onde Trevor e sua secretária, Etta, vão comprar roupas para Diana, para tentar fazer ela se misturar e passar despercebida, porque de fato sua armadura chama muita atenção. O modo como Diana experimenta as roupas é completamente diferente, ela não se importa em usar espartilhos ou em como a roupa a deixa mais magra ou mais bonita. Suas prioridades são outras e a movimentação e o conforto são essenciais para uma guerreira. Ela questiona durante todo o processo como as mulheres poderiam lutar ou se mover com aquelas roupas. Entretanto, as mulheres naquela época não lutavam e não tinha voz e para Diana isso parece absurdo. E realmente parece extremamente sem sentido que as mulheres precisem da validação de um homem para “serem alguém”.

Nos momentos em que Steve e Diana se encontram próximos a outros homens, é nítida a posição de submissão em que todos tentam colocá-la, por ser mulher. As tentativas de silenciamento, o desprezo por sua opinião, as dúvidas sobre sua inteligência e sua capacidade são muito fortes. Além disso, todos os homens a enxergam como uma criatura frágil, que precisa ser constantemente protegida e salva por eles. Levou certo tempo até que Trevor e seus amigos entendessem que ela era uma guerreira forte e preparada, que proteção não era algo necessário e que ela poderia lutar por si mesma.

Após o fim da guerra e todas as suas consequências, Diana não retorna para a ilha e escolhe viver nessa nova sociedade, iniciando assim um processo de aculturação, ou seja, ela entra em um processo de modificações e trocas culturais com as pessoas e com a nova sociedade onde ela está se estabelecendo.

Nesse momento, ela é uma imigrante se instalando e aprendendo a viver naquele local. Para facilitar essa convivência, ela escolhe se integrar, o que significa que ela mantém seus antigos valores, o que a formou, sua identidade e o orgulho de sua origem. Mas ao mesmo tempo ela absorve valores, costumes e tradições daquele povo que habita onde ela está, para que dessa forma ela possa viver e conviver com os outros humanos. Ela passa a se vestir como eles, aprende a se portar como eles, arruma um emprego, constrói uma carreira e relações com outras pessoas.

A convivência com outras pessoas de hábitos, referências valores e tradições tão diferente dos seus causa mudanças em Diana, em sua identidade. Contudo, ela ainda continua carregando o principal objetivo das amazonas e aquilo que a move: lutar por justiça, defendendo os oprimidos e buscando estabelecer a paz.

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